"É difícil repetir o título"

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"Não vai ser fácil ser outra vez campeão. Não prometo o título, só trabalho, mas vamos fazer todos os esforços para conseguir êxitos neste grande clube." Foram estas as primeiras palavras, pronunciadas num espanhol correcto, de Ronald Koeman, o novo treinador do Benfica para as próximas duas épocas.

Sorridente, o holandês, de 42 anos, mostrou-se conhecedor da "boa temporada de Trapattoni", mas nem por isso pareceu intimidado. "Treinar o Benfica, uma equipa conhecida em todo o mun-do, é uma possibilidade de mostrar que sou um técnico à altura", explicou aquele que, enquanto jogador, marcou o primeiro penalty do PSV frente ao encarnados para a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus de 1988, que o clube holandês venceria. Uma ironia que o liga a "Trap", que também havia vencido uma Taça dos Campeões ao Benfica enquanto jogador.

Com uns quilinhos a mais em relação aos tempos em que era o baluarte defensivo do Barcelona (foi o marcador do golo que deu a única Champions dos catalães, em 1992), Koeman não quis adiantar muito sobre o novo Benfica 2005/06. Equipa técnica e novos jogadores, só "nos próximos dias", depois de falar com José Veiga, o homem do futebol dos encarnados, explicou.

Espantado com o Estádio da Luz - "é magnífico" -, o ex-treinador do Ajax considerou-o "campo ideal para jogar, entreter as pessoas e ganhar". Três factores que vão pautar o seu futebol, como deixou antever, por entre os flashes dos fotógrafos "Vamos tentá-los conjugar ao máximo", disse.

Antes, o presidente do Benfica tinha desejado os melhores sucessos a Koeman e, obviamente, a renovação do título. Fintando a especulação jornalística, Luís Filipe Vieira garantiu que o holandês já se encontrava a trabalhar com o clube "há alguns dias".

No entanto, o melhor do presidente encarnado estava para vir, com a doçura a transformar-se em fel após uma pergunta em que se questionava se, perante os problemas financeiros do Benfica, Koeman esperava ter uma equipa competitiva na Liga dos Campeões. "O Benfica tem os ordenados em dia e honra todos os seus compromissos", respondeu um Vieira zangado, para logo de seguida dar por terminada a conferência de imprensa. Quanto ao novo treinador, lá teve tempo para dizer que "não pensa em dinheiro".

O disciplinador. Está assegurada a continuidade do enorme grau de rivalidade entre Benfica e FC Porto. Os novos treinadores, ambos holandeses, dos dois clubes não "morrem de amores" um pelo outro, aliás, na Holanda mal se cumprimentam.

Seguidores de diferentes "escolas" - Ronald Koeman revê-se na organização táctica e no futebol vistoso de Cruyff, enquanto Co Adriaanse é um apologista do estilo autoritário e metódico de Van Gaal - travaram na época passada uma acesa luta pelo segundo lugar da liga holandesa, que dá acesso à Liga dos Campeões. Ganhou o Ajax mas apenas a saída de Koeman, que não resistiu aos problemas que tinha com alguns dos jovens jogadores da equipa e abandonou o clube no início de Março. Mas a rivalidade entre os dois técnicos é mais antiga. Teve origem em 2001, no ano em que o Ajax despediu Adriaanse e foi buscar Koeman, conquistando nesse mesmo ano os seus dois primeiros títulos (campeonato e Taça) de treinador principal, uma carreira que teve início em finais de 1999, ao serviço do Vitesse.

"O grande objectivo de Ronald é mostrar que pode ser tão bom treinador como foi jogador", disse ao DN um jornalista holandês do Telegraft, que caracteriza Koeman como um técnico frio, tranquilo, amante da disciplina, dos métodos rígidos de trabalho, e que cultiva o distanciamento com os jogadores que orienta. "Ele até é dialogante, e comunicativo, mas só gosta de falar de trabalho com os atletas. Não quer saber dos seus problemas pessoais e recusa-se a decorar ou tomar nota sobre os dias de aniversário. Não é nada como Van Gaal, que sabe a data de nascimentos de todos os elementos do plantel, das mulheres e, se for preciso, dos filhos", conta Yuri, relatando um desabafo de Koeman, quando, na época passada, começaram a surgir alguns problemas entre o treinador e os jovens do Ajax "Não sou professor deles, e o clube não é uma escola primária. Eles estão aqui para jogar", terá dito Koeman.

Exigente nos treinos, que gosta de agendar bem para o início da - manhã, gosta de sentir que é respeitado e ouvido pelo plantel.

Não admite interferências no seu campo de acção, e foi por isso que entrou em conflito com Van Gaal, director técnico do Ajax, que não se coibia de dizer ao treinador quem deveria jogar e o esquema a utilizar.

Se o objectivo é afirmar-se como treinador, o sonho é regressar a Barcelona, onde viveu os melhores anos de uma carreira cheia de êxitos. Mas está consciente de que esse dia, a acontecer, não será para breve. E por isso mesmo vendeu, recentemente a sua casa de férias, em Espanha e comprou um terreno no Algarve, em Vale do Lobo, onde está a construir uma luxuosa moradia. Koeman, como refere o jornalista holandês, "gosta do clima português, e é um apreciador do sol e da boa comida e da boa vida, tudo isso é um escape para contrabalançar a sua mentalidade disciplinadora".

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